sábado, 23 de agosto de 2014

"A conquista da Terra, o que na maior parte significa tirá-la daqueles que têm uma fisionomia diferente ou narizes ligeiramente mais achatados do que os nosso, não é uma coisa bonita quando você olha demais para ela. (...)"

"Recordo que, certa vez, encontramos um barco de guerra ancorado na costa. Não havia sequer um barraco lá, e estava bombardeando a mata. Aparentemente, os franceses estavam empenhados em mais uma de suas guerras pelos arredores. Seu pavilhão drapejava flácido como um trapo.; as bocas dos canhões de seis polegadas estendiam-se à frente ao longo de todo o casco inferior; as ondas densas e escorregadias balançavam-no preguiçosamente para cima e para baixo, fazendo oscilar seus finos mastros. Na imensidão vazia de terra, céu e mar, lá estava ele, incompreensível, bombardeando o continente. Bum!, soava uma das armas de seis polegadas; uma chama breve dardejava e esmaecia, desprendendo uma fumacinha branca que logo desaparecia, um projétil diminuto dava um fraco estalido - e nada acontecia. Nada poderia acontecer. Havia um toque de insanidade no procedimento, uma sensação de comicidade lúgubre no que estava se passando, E não se dissipou quando alguém a bordo assegurou-me sinceramente de que havia ali um acampamento de nativos - chamava-os de inimigos! - oculto em algum ponto da selva.(...)"

O Coração das Trevas, Joseph Conrad.
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